Deputada federal é declarada inelegível e vereador apoiado por ela é cassado por compra de votos no Sul de RR
Áudios em que Helena da Asatur (MDB) organiza esquema de compra de votos A Justiça Eleitoral declarou inelegível por 8 anos a deputada federal Helena Lima, c...
Áudios em que Helena da Asatur (MDB) organiza esquema de compra de votos A Justiça Eleitoral declarou inelegível por 8 anos a deputada federal Helena Lima, conhecida como Helena da Asatur (MDB), e cassou o mandato do vereador Adriano Costa (MDB), de São João da Baliza, no Sul de Roraima, por compra de votos. Adriano é marido da prima de Helena, e foi apoiado pela parlamentar nas eleições de 2024. A decisão é desta terça-feira (18). A decisão, da comarca de São Luiz, foi assinada pela juíza Rafaella Holanda Silveira e cabe recurso. Ambos podem recorrer ainda no cargo. O g1 procurou a deputada federal Helena Lima mas não foi respondido até a última atualização desta reportagem. A ação foi movida pela então candidata à vereadora Regina Larangeira Macedo, conhecida como Larangeira do Povão (MDB). Ela integrava o mesmo grupo político de Helena e Adriano, se sentiu usada e decidiu denunciar. O g1 publicou com exclusividade mensagens e áudios entre a parlamentar, familiares e aliados nas eleições municipais de 2024. Ouça os áudios acima. Por meio de nota, a defesa de Adriano afirmou que "recebeu com surpresa a decisão de primeira instância que determinou a cassação de seu mandato". Dorgiléia Lima e Davilmar Lima também afirmaram que "receberam com surpresa a decisão divulgada nesta data e informa que irá recorrer". LEIA TAMBÉM: OUÇA ÁUDIOS: MPE vê indícios de compra de votos por deputada federal para eleger vereador marido de prima no interior de RR Presidente da CBF e deputada federal são alvos de operação por compra de votos em Roraima 🔎 Helena é esposa do empresário Renildo Lima, preso com dinheiro na cueca em 2024. Ela foi alvo da Polícia Federal (PF) em julho deste ano junto com o presidente da CBF, Samir Xaud, também por compra de votos nas eleições municipais de 2024, em Roraima. 🔎 Adriano foi reeleito em 2024 com 195 votos, o 9º entre as nove cadeiras de vereador em São João do Baliza. Todos os votos foram anulados pela Justiça. Além disso, foi aplicada uma multa de R$ 2.587.450, em Unidade Fiscal (Ufir) e foi declarado inelegível por 8 anos. Helena da Asatur (MDB) é investigada por financiar esquema da compra de votos para vereador Adriano Costa (MDB) em São João da Baliza Reprodução/Facebook e Reprodução Cassação e inelegibilidade Na decisão, a juíza entendeu que Adriano, com o apoio de familiares e aliados (incluindo Helena), implementou um "esquema estruturado de compra de votos". Este esquema envolvia: Repasses em dinheiro e via transferências bancárias (PIX); Utilização da empresa Asatur Transportes para transporte irregular e gratuito de eleitores, visando assegurar a reeleição de Adriano; 🚌 A Asatur, empresa da família de Helena, é uma das mais tradicionais em Roraima, com especialidade na rota entre Boa Vista a Manaus, no Amazonas, pela BR-174. Criada em 2001, é uma "empresa irmã" da Asatur Turismo. Além disso, presta serviços como fretamento e locação de veículos. O esquema envolvia também a esposa de Adriano, Davilmar Lima Soares e Dorgileia Lima Sousa (Leinha), irmã de Davilmar e prima de Helena. Ambas também tiveram a inelegibilidade por 8 anos decretada. Para a juíza, aconteceu um "verdadeiro derrame de dinheiro" para eleger Adriano vereador de São João da Baliza. "Por sua vez, a configuração do abuso do poder econômico também foi sobejamente demonstrada diante do alcance e escalada do esquema, tendo em vista o relato de que os procedimentos de aliciamento de eleitores ocorriam com valores entre R$ 400 a R$ 700, verdadeiro derrame de dinheiro naquele pequeno município", afirmou na decisão. Maria Aparecida da Silva de Farias (cunhada de Adriano), Ana Paula Teixeira Lima (Paulinha, irmã de Helena), Ivanira da Silva de Farias (cunhada de Adriano) tiveram as investigações julgadas como improcedentes e foram excluídas do processo. A defesa de Adriano afirmou o vereador "sempre pautou sua atuação e sua campanha pelo respeito à legislação eleitoral e afirma que não praticou qualquer irregularidade". "A decisão será objeto de recurso, que será apresentado imediatamente. Adriano segue confiante de que as instâncias superiores restabelecerão a verdade dos fatos e manterão a vontade soberana das urnas. Ele continua acreditando na Justiça e reafirma seu compromisso com a população de São João da Baliza", disse por meio de nota. 'É desse jeito que funciona a política' Da esqueda para a direita: Adriano Costa (MDB), Davilmar Lima, Helena da Asatur e Renildo Lima Reprodução/Facebook O esquema envolvia o uso de recursos de caixa dois, financiamento irregular de campanha, compra de votos e manipulação de listas de apoio. Inicialmente, Larangeira também seria beneficiada no esquema de compra de votos mas, de acordo com o relato dela, decidiu denunciar a deputada ao perceber que ela e os outros oito candidatos “de menor expressão” do MDB em Baliza foram usados para cumprir as cotas de representatividade partidária e tiveram as bases eleitorais manipuladas para redirecionar votos para Adriano. Larangeira recebeu apenas 19 votos. Como provas, ela entregou áudios e mensagens trocadas entre ela e Helena. Nas conversas, Helena e os aliados pedem listas de eleitores para a compra de votos - prática criminosas conhecida como boca de urna (BU). Além dos áudios, no processo também há comprovantes de passagens emitidas pela Asatur, empresa de transporte da família de Helena, para levar eleitores de outros municípios para votar em Adriano em São João da Baliza. "Eu já mandei o dinheiro das suas lideranças e mandei o dinheiro das BU tudinho [...] agora vai uma pessoa aí fazer o pagamento tudo pra mim, pra eles, tá? Aí você reúne o pessoal, muito cuidado, reúne o pessoal e paga o seu povo e vamos ganhar eleição! [Sic]", diz a deputada em um dos áudios enviados à Larangeira do Povão que o g1 teve acesso. A juíza na decisão julgou as provas como sólidas quando são analisadas em conjunto. "Mesmo que algumas provas não possuam muita serventia isoladamente, e outras sejam apenas indícios, pode-se concluir seguramente que o conjunto probatório como um todo está robustamente demonstrado, tendo como pedra de toque os depoimentos prestados em audiência, sendo estes o maior condutor do convencimento do juízo", disse a juíza. "Eu cumpro com todo mundo, mas é do meu jeito, tá? Eu mando uma pessoa pagar. Na minha campanha foi assim. Eu tinha 31 candidatos deputados estaduais. Todos eles reuniam o povo e a gente fazia o pagamento. É desse jeito que funciona a política, não é diferente não", diz Helena em áudio enviado à Larangeira. O material foi incluído no processo como prova. Empresária, deputada federal no 1º mandado: quem é Helena da Asatur Helena da Asatur inicia o primeiro mandado como deputada federal Reprodução/Instagram 🗳️ Maria Helena Teixeira Lima tem 48 anos, é de Tocantins, mas cresceu em São João da Baliza, município onde ajudou a eleger Adriano. Está no primeiro mandado. Nas eleições de 2022 foi eleita com 15.848 votos, segunda mais votada, e única mulher de Roraima na Câmara dos Deputados. Uma das principais empresárias do ramo de transportes em Roraima, Helena também é formada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Roraima (UFRR). A deputada declarou R$ 10 milhões em bens ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas eleições de 2022. A empresa é avaliada em R$ 11,1 milhões e tem o marido de Helena, Renildo Lima, como sócio majoritário, função que divide com uma filha do casal. No site da empresa, a informação é de que há 10 agências espalhadas por Roraima -- na capital e nos municípios. Além disso, a família também é proprietária da Voare Táxi Aéreo, única empresa de táxi aéreo privado do estado. Helena da Asatur (MDB) com o afilhado de casamento, Adriano Costa (MDB) Reprodução/Facebook Leia outras notícias do estado no g1 Roraima.